quarta-feira, 26 de setembro de 2012

HOMILIA DE DOM SERGIO NA CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA DE ABERTURA DO ANO DA FÉ NA DIOCESE DE BRAGANÇA PAULISTA



Diocese de Bragança Paulista – SP.
Solene Eucaristia para a Abertura do ANO da FÉ.
Dia 25 de setembro de 2012.
Catedral Diocesana Imaculada Conceição.
                 
Homilia.

                       Irmãos e Irmãs!

                       Em comunhão com o Santo Padre Bento XVI, pastor visível de nossa Igreja: Una, Santa, Católica e Apostólica, nos reunimos nesta Catedral, para iniciar o Ano da Fé que, na Igreja Universal, terá início em Roma, no dia 11 de outubro de 2012, cinqüentenário da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, data em que completar-se-ão também os vinte anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica, grande dom do Beato João Paulo II à Igreja, com a finalidade de retomar e ilustrar para todos os fiéis, a grandeza e a beleza da fé. Fruto do Concílio Ecumênico Vaticano II, o Catecismo da Igreja Católica foi um desejo expresso do Sínodo Extraordinário dos Bispos de 1985 que, até nossos dias tem sido um instrumento indispensável ao serviço da catequese.

                        Nesta hora em que toda a Igreja é chamada a ouvir o que diz o Espírito (Ap 2,7), faz-se necessário recorrer à Assembléia Geral do Sínodo dos Bispos a realizar-se em Roma no próximo mês de  outubro de 2012, convocada pelo Papa Bento XVI com o tema: A nova evangelização para a transmissão da Fé, com a finalidade de introduzir a Igreja inteira num tempo de particular reflexão e redescoberta da fé e, ainda à proposta do Ano da Fé, proclamado pelo servo de Deus Paulo VI em 1967, décimo nono centenário do supremo testemunho dos Apóstolos Pedro e Paulo, motivando toda a Igreja a uma “autêntica e sincera profissão da mesma fé”, ainda que confirmada de modo individual ou coletivo, livre e consciente, interior e exterior, humilde e franca”. O desejo do grande pontífice do século XX era que toda a Igreja retomasse a exata consciência da sua fé para reavivar, purificar, confirmar e confessar.   
         
                         Mas é no Papa Bento XVI que encontramos as motivações mais profundas para a convocação do Ano da Fé. No dia 24 de abril de 2005, na Praça de São Pedro, na Eucaristia de início do seu ministério como sucessor do Apóstolo Pedro, assim se expressou em sua homilia: “...Nós existimos para mostrar Deus aos homens. E só onde se vê Deus, começa verdadeiramente a vida. Só quando encontramos em Cristo o Deus vivo, conhecemos o que é a vida. Não somos o produto casual e sem sentido da evolução. Cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus. Cada um de nós é querido, cada um de nós é amado, cada um de nós é necessário. Não há nada mais belo do que ser alcançados, surpreendidos pelo Evangelho, por Cristo. Não há nada mais belo do que conhecê-Lo e comunicar aos outros a Sua amizade ...”. No dia 07 de maio do mesmo ano, na Basílica de São João de Latrão, a Catedral do Papa, ao iniciar o ministério como Bispo de Roma, durante a homilia, lembrou ao seu Clero e aos fiéis que “o Papa tem consciência de que está, nas suas grandes decisões, ligado à grande Comunidade de Fé de todos os tempos, às interpretações vinculantes que cresceram ao longo do caminho peregrinante da Igreja. Assim, o seu poder não é superior, mas está ao serviço da Palavra de Deus e, sobre ele recai a responsabilidade de fazer com que esta Palavra continue a estar presente na sua grandeza e a ressoar na sua pureza, de modo que não seja fragmentada pelas contínuas mudanças das modas”. É precisamente aqui que está o programa norteador do serviço do Sucessor de Pedro: levar homens e mulheres do nosso tempo à experiência do Deus vivo que é amor e de sua Palavra – Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, expresso na sua Carta Encíclica – Deus Caritas Est, sobre o amor cristão, “amor que Deus oferece de modo misterioso e gratuito ao homem, juntamente com o nexo intrínseco daquele Amor com a realidade do amor humano”.

                    Irmãos e Irmãs!

                    A cada dia ecoa aos nossos ouvidos, que o mundo atual passa por uma profunda crise de fé – fé não mais vivida como pressuposto óbvio da vida diária, mas negada – e que tem atingido muitas pessoas com a consequente perda do sentido religioso da vida, o que constitui o maior desafio para a Igreja hoje. O Papa crê que o Ano da Fé será “um momento de graça e de compromisso para uma conversão a Deus, cada vez mais completa, para fortalecer a nossa fé n’Ele e para O anunciar com alegria ao homem do nosso tempo”.

                   Mas como viver o Ano da Fé?

                   Percebendo a Necessidade de ir ao encontro de Jesus para ouvi-lo, estar com Ele como a samaritana à beira do poço de Jacó, beber da sua fonte donde jorra a água viva (cf. Jo 4,14) e assim, alimentados por Ele, Palavra e Pão da vida, sermos fiéis discípulos missionários d’Ele; acolhendo-o como “cordeiro santo, inocente, imaculado” (Hb 7,26), Ele que não conheceu o pecado (cf. 2Cor 5,21), mas veio para expiar os pecados do povo (cf. Hb 2,17). Somos uma Igreja santa e pecadora, necessitada de purificação, chamada continuamente à penitência e à renovação e que prossegue sua peregrinação no meio das perseguições do mundo e das consolações de Deus, anunciando a cruz e a morte do Senhor até que Ele venha (cf. 1 Cor 11,26); deixando-nos impulsionar pelo Seu amor – amor de Cristo, fazendo de nossa vida um evangelho vivo para tantos irmãos e irmãs que não O conhecem, a começar pelas nossas comunidades, no centro, na periferia, no meio rural, no mundo do trabalho, nos centros de decisões, no mundo vasto e complexo da política, da realidade social, da economia, da cultura, das ciências e das artes, da vida internacional, dos meios de comunicação, da família, da educação, mormente das crianças e dos adolescentes e do sofrimento. Nosso empenho não pode reduzir-se ao nível pessoal, mas é necessário um empenho eclesial, convicto e a favor de uma evangelização capaz de descobrir de novo a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo de comunicar a fé; intensificando nossa reflexão sobre a fé, sob a guia de nossos pastores (Bispos e Presbíteros), para ajudar todos os crentes em Cristo a tornarem mais consciente e revigorarem sua adesão ao Evangelho, sobretudo num momento de profunda mudança como este que a humanidade está a viver; celebrando a fé na liturgia, “cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, fonte donde emana toda a sua força” (Sacrosanctum Concilium – sobre a Liturgia, n.10), sobretudo pela participação na Eucaristia. Que o Povo de Deus cresça na consciência de que é Povo Sacerdotal, Povo marcado pela realeza e povo chamado a ser profeta em virtude do seu batismo, convocado a proclamar as obras maravilhosas do Senhor. Que o testemunho dos que crêem seja marcado pela credibilidade. Como Igreja, possamos descobrir novamente os conteúdos da fé professada, celebrada, vivida e rezada e refletir sobre o próprio ato com que se crê como compromisso que cada crente deve assumir a partir deste Ano da Fé. Que a recitação do Credo (Niceno-Constantinopolitano) – Profissão de Fé seja nossa oração diária, de preferência de cor – de coração; aprendendo cada dia que a fé é dinâmica, pertence ao hoje da nossa vida e que significa estar com o Senhor, viver com Ele e para Ele, colocando toda nossa liberdade à disposição d’Ele, assumindo nossa responsabilidade na construção de um mundo mais digno, solidário e justo. É a fé que nos encoraja, faz-nos destemidos e transparentes no testemunho que o mundo tanto necessita; buscando na Sagrada Escritura, na Tradição e no Magistério, os valores que permanecem para sempre, lembrando que a iniciativa é de Deus, que vem ao nosso encontro, nos convida e abre plenamente a fé; retomando com renovada esperança o Concílio Ecumênico Vaticano II, convocado pelo Servo de Deus, o Papa João XXIII, que há cinqüenta anos convidou a Igreja ao aggiornamento, ou seja: à sua atualização, rejuvenescimento e diálogo: consigo mesma, com outras Igrejas Cristãs, com outras religiões e com o mundo de hoje, portanto, um Concílio Pastoral, sem condenações, que motivado pelo sopro do Espírito Santo tornaria a Igreja aberta e solidária aos problemas de toda a humanidade, fazendo suas, “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem” (Gaudim et Spes – sobre a Igreja no mundo de hoje, n. 01); conhecendo e refletindo o Catecismo da Igreja Católica em nossas comunidades como subsídio precioso e indispensável quanto aos conteúdos da fé e sua sistematização. Não é possível testemunhar a fé com convicção sem conhecê-la e amá-la; confiando no testemunho da Mãe de Jesus – serva fiel e obediente ao Pai (cf. Lc 1,38), no testemunho dos Apóstolos – que foram pelo mundo inteiro, sem temor e com alegria, obedecendo ao mandato do Senhor de levar o Evangelho a toda criatura (Mc 16,15), no testemunho dos discípulos e mártires das primeiras comunidades cristãs; no testemunho de homens e mulheres que ao longo da história deixaram tudo para viver a simplicidade evangélica, na pobreza, obediência e castidade, sinais concretos da disponibilidade para o serviço ao Reino de Deus presente no mundo e que caminha para a plenitude; cultivando a caridade que permanece para sempre. Em nosso trabalho pastoral não podemos passar pelos pobres, os que vivem sozinhos, marginalizados, excluídos, vítimas das injustiças, doentes, os que nos procuram aflitos, sem reconhecer neles o rosto de Cristo sofredor. Impõe-se uma dedicação ativa, que mobilize a comunidade, visando uma ação que os ajude a recuperar a dignidade, devolvendo, de algum modo, aquele amor com que Ele, o Senhor Jesus cuida de nós.

                    Como pede o Santo Padre Bento XVI e toda a Igreja, “possa o Ano da Fé, tornar cada vez mais firme a relação com Cristo Senhor, dado que só n’Ele temos a certeza para olhar para o futuro e a garantia dum amor autêntico e duradouro. As seguintes palavras do apóstolo Pedro lançam um último facho de luz sobre a fé: “É por isso que exultais de alegria, se bem que, por algum tempo, tenhais de andar aflitos por diversas provações, deste modo, a qualidade genuína da vossa fé – muito mais preciosa do que o ouro perecível, por certo também provado pelo fogo – será achada digna de louvor, de glória e de honra, na altura da manifestação de Jesus Cristo. Sem O terdes visto, vós O amais; sem O ver ainda, credes n’Ele e vos alegrais com uma alegria indescritível e irradiante, alcançando assim a meta da vossa fé: a salvação das almas” (1 Pd 1,6-9). Amém.
                                      
Dom Sérgio Aparecido Colombo
Bispo Diocesano

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