Diocese de
Bragança Paulista – SP.
Solene
Eucaristia para a Abertura do ANO da FÉ.
Dia 25 de
setembro de 2012.
Catedral
Diocesana Imaculada Conceição.
Homilia.
Irmãos e Irmãs!
Em comunhão
com o Santo Padre Bento XVI, pastor visível de nossa Igreja: Una, Santa,
Católica e Apostólica, nos reunimos nesta Catedral, para iniciar o Ano da Fé
que, na Igreja Universal, terá início em Roma, no dia 11 de outubro de 2012,
cinqüentenário da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, data em que
completar-se-ão também os vinte anos da publicação do Catecismo da Igreja
Católica, grande dom do Beato João Paulo II à Igreja, com a finalidade de
retomar e ilustrar para todos os fiéis, a grandeza e a beleza da fé. Fruto do
Concílio Ecumênico Vaticano II, o Catecismo da Igreja Católica foi um desejo
expresso do Sínodo Extraordinário dos Bispos de 1985 que, até nossos dias tem
sido um instrumento indispensável ao serviço da catequese.
Nesta hora em que toda a Igreja
é chamada a ouvir o que diz o Espírito (Ap 2,7), faz-se necessário recorrer à Assembléia
Geral do Sínodo dos Bispos a realizar-se em Roma no próximo mês de outubro de 2012, convocada pelo Papa Bento XVI
com o tema: A nova evangelização para a
transmissão da Fé, com a finalidade de introduzir a Igreja inteira num
tempo de particular reflexão e redescoberta da fé e, ainda à proposta do Ano da
Fé, proclamado pelo servo de Deus Paulo VI em 1967, décimo nono centenário do
supremo testemunho dos Apóstolos Pedro e Paulo, motivando toda a Igreja a uma
“autêntica e sincera profissão da mesma fé”, ainda que confirmada de modo
individual ou coletivo, livre e consciente, interior e exterior, humilde e
franca”. O desejo do grande pontífice do século XX era que toda a Igreja
retomasse a exata consciência da sua fé para reavivar, purificar, confirmar e
confessar.
Mas é no Papa Bento
XVI que encontramos as motivações mais profundas para a convocação do Ano da
Fé. No dia 24 de abril de 2005, na Praça de São Pedro, na Eucaristia de início
do seu ministério como sucessor do Apóstolo Pedro, assim se expressou em sua
homilia: “...Nós existimos para mostrar Deus aos homens. E só onde se vê Deus,
começa verdadeiramente a vida. Só quando encontramos em Cristo o Deus vivo,
conhecemos o que é a vida. Não somos o produto casual e sem sentido da
evolução. Cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus. Cada um de nós é
querido, cada um de nós é amado, cada um de nós é necessário. Não há nada mais
belo do que ser alcançados, surpreendidos pelo Evangelho, por Cristo. Não há
nada mais belo do que conhecê-Lo e comunicar aos outros a Sua amizade ...”. No
dia 07 de maio do mesmo ano, na Basílica de São João de Latrão, a Catedral do
Papa, ao iniciar o ministério como Bispo de Roma, durante a homilia, lembrou ao
seu Clero e aos fiéis que “o Papa tem consciência de que está, nas suas grandes
decisões, ligado à grande Comunidade de Fé de todos os tempos, às
interpretações vinculantes que cresceram ao longo do caminho peregrinante da
Igreja. Assim, o seu poder não é superior, mas está ao serviço da Palavra de
Deus e, sobre ele recai a responsabilidade de fazer com que esta Palavra
continue a estar presente na sua grandeza e a ressoar na sua pureza, de modo
que não seja fragmentada pelas contínuas mudanças das modas”. É precisamente
aqui que está o programa norteador do serviço do Sucessor de Pedro: levar
homens e mulheres do nosso tempo à experiência do Deus vivo que é amor e de sua
Palavra – Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, expresso na sua
Carta Encíclica – Deus Caritas Est, sobre o amor cristão, “amor que Deus
oferece de modo misterioso e gratuito ao homem, juntamente com o nexo
intrínseco daquele Amor com a realidade do amor humano”.
Irmãos e Irmãs!
A cada dia ecoa aos nossos ouvidos, que o mundo atual passa por uma
profunda crise de fé – fé não mais vivida como pressuposto óbvio da vida
diária, mas negada – e que tem atingido muitas pessoas com a consequente perda
do sentido religioso da vida, o que constitui o maior desafio para a Igreja
hoje. O Papa crê que o Ano da Fé será “um momento de graça e de compromisso
para uma conversão a Deus, cada vez mais completa, para fortalecer a nossa fé
n’Ele e para O anunciar com alegria ao homem do nosso tempo”.
Mas como viver o Ano da Fé?
Percebendo a Necessidade de ir ao
encontro de Jesus para ouvi-lo, estar com Ele como a samaritana à beira do
poço de Jacó, beber da sua fonte donde jorra a água viva (cf. Jo 4,14) e assim,
alimentados por Ele, Palavra e Pão da vida, sermos fiéis discípulos
missionários d’Ele; acolhendo-o como “cordeiro
santo, inocente, imaculado” (Hb 7,26),
Ele que não conheceu o pecado
(cf. 2Cor 5,21), mas veio para expiar os pecados do povo (cf. Hb 2,17). Somos
uma Igreja santa e pecadora, necessitada de purificação, chamada continuamente
à penitência e à renovação e que prossegue sua peregrinação no meio das
perseguições do mundo e das consolações de Deus, anunciando a cruz e a morte do
Senhor até que Ele venha (cf. 1 Cor 11,26); deixando-nos impulsionar pelo Seu amor – amor de Cristo, fazendo de
nossa vida um evangelho vivo para tantos irmãos e irmãs que não O conhecem, a
começar pelas nossas comunidades, no centro, na periferia, no meio rural, no mundo
do trabalho, nos centros de decisões, no mundo vasto e complexo da política, da
realidade social, da economia, da cultura, das ciências e das artes, da vida
internacional, dos meios de comunicação, da família, da educação, mormente das
crianças e dos adolescentes e do sofrimento. Nosso empenho não pode reduzir-se
ao nível pessoal, mas é necessário um empenho eclesial, convicto e a favor de
uma evangelização capaz de descobrir de novo a alegria de crer e reencontrar o
entusiasmo de comunicar a fé; intensificando
nossa reflexão sobre a fé, sob a guia de nossos pastores (Bispos e Presbíteros),
para ajudar todos os crentes em Cristo a tornarem mais consciente e revigorarem
sua adesão ao Evangelho, sobretudo num momento de profunda mudança como este
que a humanidade está a viver;
celebrando a fé na liturgia, “cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao
mesmo tempo, fonte donde emana toda a sua força” (Sacrosanctum Concilium – sobre
a Liturgia, n.10), sobretudo pela participação na Eucaristia. Que o Povo de
Deus cresça na consciência de que é Povo Sacerdotal, Povo marcado pela realeza
e povo chamado a ser profeta em virtude do seu batismo, convocado a proclamar
as obras maravilhosas do Senhor. Que o testemunho dos que crêem seja marcado
pela credibilidade. Como Igreja, possamos descobrir novamente os conteúdos da
fé professada, celebrada, vivida e rezada e refletir sobre o próprio ato com
que se crê como compromisso que cada crente deve assumir a partir deste Ano da
Fé. Que a recitação do Credo (Niceno-Constantinopolitano) – Profissão de Fé
seja nossa oração diária, de preferência de cor – de coração; aprendendo cada dia que a fé é dinâmica,
pertence ao hoje da nossa vida e que significa estar com o Senhor, viver com
Ele e para Ele, colocando toda nossa liberdade à disposição d’Ele, assumindo
nossa responsabilidade na construção de um mundo mais digno, solidário e justo.
É a fé que nos encoraja, faz-nos destemidos e transparentes no testemunho que o
mundo tanto necessita; buscando na
Sagrada Escritura, na Tradição e no Magistério, os valores que permanecem para
sempre, lembrando que a iniciativa é de Deus, que vem ao nosso encontro,
nos convida e abre plenamente a fé; retomando
com renovada esperança o Concílio Ecumênico Vaticano II, convocado pelo
Servo de Deus, o Papa João XXIII, que há cinqüenta anos convidou a Igreja ao
aggiornamento, ou seja: à sua atualização, rejuvenescimento e diálogo: consigo
mesma, com outras Igrejas Cristãs, com outras religiões e com o mundo de hoje,
portanto, um Concílio Pastoral, sem condenações, que motivado pelo sopro do
Espírito Santo tornaria a Igreja aberta e solidária aos problemas de toda a
humanidade, fazendo suas, “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as
angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem”
(Gaudim et Spes – sobre a Igreja no mundo de hoje, n. 01); conhecendo e refletindo o Catecismo da Igreja Católica em nossas comunidades como subsídio
precioso e indispensável quanto aos conteúdos da fé e sua sistematização. Não é
possível testemunhar a fé com convicção sem conhecê-la e amá-la; confiando no testemunho da Mãe de Jesus
– serva fiel e obediente ao Pai (cf. Lc 1,38), no testemunho dos Apóstolos – que foram pelo mundo inteiro, sem
temor e com alegria, obedecendo ao mandato do Senhor de levar o Evangelho a
toda criatura (Mc 16,15), no testemunho
dos discípulos e mártires das primeiras comunidades cristãs; no testemunho de homens e mulheres que ao
longo da história deixaram tudo para viver a simplicidade evangélica, na
pobreza, obediência e castidade, sinais concretos da disponibilidade para o
serviço ao Reino de Deus presente no mundo e que caminha para a plenitude; cultivando a caridade que permanece para sempre.
Em nosso trabalho pastoral não podemos passar pelos pobres, os que vivem
sozinhos, marginalizados, excluídos, vítimas das injustiças, doentes, os que
nos procuram aflitos, sem reconhecer neles o rosto de Cristo sofredor. Impõe-se
uma dedicação ativa, que mobilize a comunidade, visando uma ação que os ajude a
recuperar a dignidade, devolvendo, de algum modo, aquele amor com que Ele, o
Senhor Jesus cuida de nós.
Como pede o Santo Padre Bento XVI e toda a Igreja, “possa o Ano da Fé,
tornar cada vez mais firme a relação com Cristo Senhor, dado que só n’Ele temos
a certeza para olhar para o futuro e a garantia dum amor autêntico e duradouro.
As seguintes palavras do apóstolo Pedro lançam um último facho de luz sobre a
fé: “É por isso que exultais de alegria, se bem que, por algum tempo, tenhais
de andar aflitos por diversas provações, deste modo, a qualidade genuína da
vossa fé – muito mais preciosa do que o ouro perecível, por certo também
provado pelo fogo – será achada digna de louvor, de glória e de honra, na
altura da manifestação de Jesus Cristo. Sem O terdes visto, vós O amais; sem O
ver ainda, credes n’Ele e vos alegrais com uma alegria indescritível e
irradiante, alcançando assim a meta da vossa fé: a salvação das almas” (1 Pd
1,6-9). Amém.
Dom Sérgio
Aparecido Colombo
Bispo
Diocesano
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